Apunte a una canción de Sérgio Godinho: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

Hoy es el primer día del resto de tu vida, canta Sérgio Godinho. Qué acierto. Es lo que uno tendría que decirse a sí mismo al final de un ciclo, al superar una dificultad, al vencer un agotamiento, al reemprender otro camino o simplemente torcer por un vericueto que permite seguir estando aquí. También, sin que exista ningún jalón especial que nos marque, puede ser útil como sencilla reflexión al final de la jornada. El don de relativizar y de desdramatizar los problemas de cada uno llega desde un pensamiento tan sencillo como racional. Curiosamente hoy, mañana, estas fechas que las ceremonias sociales han impuesto en la cultura occidental como especiales, también son días cualesquiera. Días que juegan o patinan con nuestro humor, rebajan o aumentan tensiones, nos alegran o entristecen cuando azuzamos recuerdos, nos apremian o nos calman porque el tiempo-cuerpo no varía sustancialmente ante el montaje exterior que se cuela por los rincones de nuestras vidas, tratando de reprogramarnos y reconducirnos a otras esferas vanas. 

Bueno, solo aporto esta consideración del cantor portugués: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida, que he hecho mía. Creo que hay en ella una pizca importante de felicidad y de deseo grato para otros. La felicidad que da el acto de pensar y recapacitar, la intención de proponer y resistir, el gesto de expresar lo mejor que llevamos dentro y hacer partícipe de ello a otros individuos. Me parece más sólido aportaros esto que las consabidas jaculatorias propias de estos días. Tiene tanto de plegaria agradecida a la vida, que es tanto como decir al azar...  

«A princípio é simples, anda-se sozinho, passa-se nas ruas bem devagarinho está-se bem no silêncio e no borborinho bebe-se as certezas num copo de vinho e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo diz-se do passado que está moribundo bebe-se o alento num copo sem fundo e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! E é então que amigos nos oferecem leito, entra-se cansado e sai-se refeito luta-se por tudo o que se leva a peito bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! Depois vêm cansaços e o corpo frequeja olha-se para dentro e já pouco sobeja pede-se o descanso por curto que seja, apagam-se dúvidas num mar de cerveja e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! E enfim duma escolha faz-se um desafio enfrenta-se a vida de fio a pavio navega-se sem mar sem vela ou navio bebe-se a coragem até dum copo vazio e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida! Entretanto o tempo fez cinza da brasa outra maré cheia virá da maré vaza nasce um novo dia e no braço outra asa, brinda-se aos amores com o vinho da casa e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!»